HISTORIA

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BIOGRAFIA DE BERNARDO MONTEVERDE - POR TELMA LASMAR(MUSEÓLOGA DO MEMORIAL MONTEVERDE - 2014)

BERNARDO, VIDA E OBRA

1912. Início do século. Grassavam as epidemias de febre amarela e malária, ceifando centenas de vi­das em todo o País. Foi nesse cenário, na pacata Joinville, Santa Catarina, que Bernardo chegou ao mundo, nascido da união dos imigrantes David e Augusta, recém-chegados a terras brasileiras, e ali passou os primeiros anos de sua infância.

Quando tinha 7 anos, seu pai faleceu no Rio de Janeiro, cidade para onde a família tinha ido, em busca de melhores condições de vida. Com o ocorrido, Augusta levou os filhos Henrique, Anita e Bernardo para o Nordeste, fixando-se em São Lourenço da Mata, distante 40 quilômetros do Recife. Ali viveram dois anos, mudando-se para a histórica Olinda, onde Bernardo concluiu o curso primário. Voltando ao Recife, o rapaz iniciou os estudos secundários no Ginásio Pernambucano.

Foi exatamente aí que seu destino tomou importan­te e decisivo rumo. Reprovado em latim, devido às dificuldades ocasionadas pela intensa miopia (ti­nha apenas dez por cento da visão), ferido em seu orgulho, decidiu, sem o consentimento e o conheci­mento da família, aventurar-se pelo mundo. Era o Bernardo curioso, era aquele menino que existe dentro de todo adolescente descobrindo a vida. E, com al­guns trocados economizados, saiu à procura de emprego. Conseguiu, após muita luta, o cargo de marinheiro nos barcos do Lloyd Brasileiro que trafegavam ao longo do Rio São Francisco, ou, como carinhosamente o chamam os nordestinos, o Velho Chico, viajando de Juazeiro a Pirapora. As manhãs, tardes e noites eram ali passadas, no correr das águas e das paisagens, com o tempo re­petidas. Nessas horas, Bernardo refletia, ansiava por algo mais. Nos recônditos de sua alma, batia a saudade cruel da mãe e dos irmãos e a ânsia de regressar vitorioso, mostrando que sua capacidade ia muito além de um simples teste escolar. Assim, os dias passavam e os meses ficavam, no ir e vir dos barcos. Um dia, porém, alguém se deba­teu nas águas e Bernardo se lançou de imediato do costado da embarcação. Era um ancião, já prestes a afogar-se. Salvando-o, pelo ato de bravura, Bernardo alcançou sua primeira promoção, sendo elevado ao posto de comissário de bordo.

Ainda se passaram alguns anos e o rapaz prosse­guia com suas economias. Chegou o ano de 1930. Contando, então, 18 anos, cônscio dos deveres para com a Pátria, alistou-se na Marinha. Passando para a reserva, decidiu tornar-se negociante. Adquiriu um cavalo e algumas mercadorias com o dinheiro que conseguira juntar e partiu para os sertões, indo de cidade em cidade, vendendo, comprando, trocando os mais diversos produtos. Nessas andanças, depa­rou com a realidade brasileira, a pobreza de nosso interior, a singeleza do casario, a humildade como­vente de seus habitantes, a precariedade de condi­ções de vida, a cruel seca, as lavouras mal dando para a subsistência, as festas populares. Foi numa dessas paragens que teve a oportunidade de conhecer pessoalmente dois personagens deveras famo­sos e polêmicos de nossa história: Virgulino Ferreira, o Lampião, rei do cangaço, e Padre Cícero Romão, o Padim Ciço, de Juazeiro. Com Virgulino ele bateu um dedinho de prosa e comeu carne-de-sol; de Padre Cícero, recebeu a bênção, como bom e tradicional nordestino, apesar de não o ser. Os sertões e seu ritmo peculiar, suas tradições... tudo Bernardo, em sua curiosidade, observou, podendo-se dizer que foi um dos raros brasileiros a orgulhar-se de conhecer profundamente este chão e este povo. E continuou devorando distâncias, acumulando experiências, consolidando conhecimentos que se transformariam, depois, na sapiência tranquila que fez parte marcante de sua personalidade, sua mais evidente característica.

Chegou, finalmente, o ano de 1939. Bernardo já ti­nha conseguido amealhar uma pequena importância com o trabalho árduo de caixeiro-viajante e 500.000 réis deram início à fundação da Conservadora Americana, hoje Monteverde Comércio e Indústria Ltda., empresa que dirigiu até o seu falecimento, em 29 de junho de 1997, junto com a esposa, Esterzinha, com quem se casou em 1o de maio de 1945. Era uma época de maiores perspectivas para o planeta, com o fim da Segunda Guerra Mundial e uma nova etapa na vida do promissor empresário, agora tendo com quem compartilhar anseios e esperanças. E Esterzinha se mostrou um ser especial, um com­plemento indispensável na vida de Bernardo, pois, além de companheira leal, passou a lutar a seu lado na direção da empresa. No ano seguinte ao seu casamento, nasceu o primogênito, a quem foi dado o nome de William. A alegria dos festejos de fim de ano se juntaram as comemorações pela chegada do primeiro filho. William foi advogado, radicado em Teresópolis, onde possuiu um escritório. Alguns anos mais tarde, nasceu o segundo filho do casal, Paulo, que seguiu a mesma carreira do irmão. O terceiro e último filho, David, recebeu o nome do avô paterno. Portanto, são três filhos e cinco netos, frutos de uma união de 52 anos, que deverão perpetuar não só o nome, mas também os valores morais e espirituais dos Monteverde.

Bernardo foi um exemplo para filhos, netos, funcio­nários, enfim, para todos aqueles que com ele convi­veram. Era um homem modesto, simples e amigo, apesar de todas as conquistas profissionais e pessoais, de todos os títulos, homenagens e prêmios que recebeu e continua recebendo em memória. Dentre eles, pode­mos citar o título de Cidadão Benemérito do Rio de Janeiro, Cidadão Paraense, Cidadão Cuiabano, Cidadão Honorário de Teresópolis, Cidadão de Itabuna, Cidadão Petropolitano, Grã-Cruz da Ordem Cultural Bernardo Sayão, Pioneiro de Brasília, Amigo dos Bombeiros do Distrito Federal, Benemérito da Academia de Letras e Artes de Paranapuã, Benemérito do Projeto Marechal Rondon, Empresário Destaque 83/84 da Revista Visão, Empresário Destaque na Revista Brasília 83, Integrante do Conselho Deliberativo da ORT – RJ, Conselheiro da Fierj e tantos outros. Recebeu, post mortem, o Título de Cidadão Honorário de Brasília e foi condecorado, in memoriam, com o grau de Comendador da Ordem do Mérito de Brasília, o Diploma de Reconhecimento à Excelência Profissional, pelo Rotary Club de Brasília, o Diploma de Reconhecimento do Setor de Prestação de Serviços, da ESPS. Bernardo foi um homem que sempre buscou o aper­feiçoamento, tentando compreender os limites do ser humano. Estudava, buscava, construía, admi­nistrava, percorria de bicicleta, trem, bonde, o que fosse, estas terras brasileiras. E nos perguntamos: onde foi buscar tanta energia, disposição e deste­mor? Parte é fruto dele mesmo, já nasceu predesti­nado, para aqueles que acreditam em destino traça­do, e parte ele conquistou bravamente, para aqueles que creem que o homem pode interferir no curso da própria existência.

Bernardo era um homem que norteava suas ações por conceitos filosóficos com os quais se identifi­cava. Estudioso da Logosofia durante muitos anos, acreditava que o conhecimento das leis universais muito colaborou para o seu desenvolvimento pes­soal e para o seu sucesso profissional, sendo um indivíduo livre e de bons costumes. Estava sempre almejando um mundo justo e perfeito.

Assim era Bernardo. Nada como suas palavras para fechar este breve resumo de uma grande vida, vivida e cumprida de sol a sol. Por ocasião da solenida­de de entrega do Título de Cidadão Benemérito do Estado do Rio de Janeiro, proposta pelo Deputado Jorge David, em 26 de agosto de 1986, Bernardo Monteverde proferiu o seguinte discurso: "Peço desculpas, pois a emoção tomou conta de mim, estou muito emocionado. Contudo, vou tentar externar o meu sentimento. Naturalmente, o meu sentimento e minha mais profunda gratidão. Exmo sr. deputado Gilberto Rodrigues, presidente desta solenidade; exmo sr. deputado Jorge David; exmo sr. deputado Mariano Gonçalves Neto; exmo general Hermes Guimarães, presidente da Associação Brasileira para o Desarmamento Moral; exmo sr. professor Lyoji Okada, magní­fico reitor da Fundação Logosófica do Rio de Janeiro; e, por fim, a minha querida Esterzinha; Caríssimos convidados, o título de Cidadão Benemérito do Estado do Rio de Janeiro, com o qual estou sendo honrado, e as palavras que acabamos de ouvir me deixaram profundamente sen­sibilizado. Não encontro adjetivos suficientes para agradecer à magnitude e à generosidade do ilustre senhor deputado Jorge David, autor do projeto, e demais membros deste Legislativo, que aprovaram por unanimidade este valioso título. Sinto-me feliz com esta homenagem, que servirá como um poderoso estímulo para continuar cola­borando em tudo o que possa ser útil para o pro­gresso e a prosperidade do nosso querido Estado do Rio de Janeiro. Estou consciente de que nada mais fiz além do meu dever. Não me considero um benemérito, mas, sim um beneficiado.

O fato de ser quase octogenário, não me entristece nem me aflige, pois, além de contar com a precio­sa amizade dos amigos aqui presentes, também sou grato ao Supremo Criador desse mundo maravilho­so, por nos proporcionar a ventura e a satisfação de desfrutar as infinitas belezas do universo em toda a sua plenitude. Para triunfar na vida, é importante saber que tudo depende de nós mesmos, de nossos esforços e de nossas ações. O essencial é sermos capazes de tolerar as faltas alheias e reprimir as nossas. As divergências de opinião jamais devem ser moti­vo de desentendimento e hostilidade. O interesse individual deve ser sacrificado em prol do bem coletivo. Para nos sentirmos realmente realizados, devemos ser úteis aos nossos semelhantes e cultivar a bonda­de em toda a sua extensão. O afeto, a generosidade, a gratidão e, sobretudo, o puro e verdadeiro amor devem presidir todas as nossas ações. Foi dentro desse princípio que procurei estruturar a minha vida e de minha família. Considero-me gratificado com os frutos que venho colhendo. A vida não deixa de nos proporcionar toda sorte de revezes e na minha longa caminhada enfrentei duramente muitas e muitas dificuldades. Felizmente, consegui superar todos os problemas e transpor todos os obstáculos. Continuo sempre na luta com entusiasmo, vigor e esperança inabalável. Gostaria de poder transmitir a todos esta esperança e a fé na vitória dos conceitos positivos que sempre me inspiraram, na certeza de que assim alcançare­mos um mundo melhor. Para finalizar, reitero a todos a minha mais profun­da gratidão."

Dizia frases que sempre utilizava nas ocasiões ne­cessárias e vale repetir suas mais contundentes:

  • Como é bom ser bom!
  • Nossas boas ações semearão nosso futuro.
  • Temos sempre de ser úteis aos nossos semelhantes.
  • Os bons exemplos deverão ser sempre seguidos.
  • O mais humilde merece nosso respeito.
  • Afeto, amor e respeito não se compram, se adquirem.
  • Na vida, as grandes conquistas dependem unica­mente de nossos esforços.
  • A verdadeira conscientização da psicologia hu­mana é a visão do discernimento, do entendimento e da tolerância.
  • Continuo na luta sempre, com entusiasmo, vigor e esperança inabalável.
  • Devemos ser tolerantes com as deficiências dos outros e reprimir as nossas com o máximo rigor.
  • A felicidade, ou se compartilha ou se perde, pois ninguém pode ser feliz sozinho.